Panela de pressão é uma coisa útil, mas todo mundo sabe que é uma
coisa perigosa também. Se a pressão não escapa, a panela explode. Se a pressão
escapa demais, a comida não cozinha do jeito que era esperado. Então eu penso
que, antigamente, quando as panelas estragavam: explodiam ou deixavam de
cozinhar, a dona de casa, dona da panela, mandava a panela pra revisão. Trocava
uma peça, uma borrachinha, e lá estava a utilidade de volta, pronta para durar
bons meses (ou anos)…
E não é só máquina de pressão que era assim. Quem é da minha geração
deve ter convivido pelo menos 15 anos com máquinas de lavar que eram do
casamento dos pais, e conhecido pelo menos um “moço que conserta a máquina de
lavar”. Também é possível que tenha conhecido um “moço que conserta a geladeira”
e até se lembre, com certa nostalgia, do barulho que as geladeiras antigas
faziam, com seu motor que ligava e desligava…
Hoje em dia, ninguém mais conserta panela de pressão, máquina de lavar
roupa, nem geladeira, até onde eu vejo. Muitas vezes, é mais barato (e mais
prático), comprar uma nova.
O que me parece é que, com relacionamentos acontece a mesma coisa.
Namorar, casar, relacionar a longo prazo, não é como ter um micro-ondas, que a
gente põe a comida lá dentro e em 1 minuto está pronto. É como ter uma panela
de pressão.
A gente (nós e eles, eles e elas) põe dentro dela experiências
prévias, expectativas, sonhos.
A gente põe muito do que a gente é, do que a gente quer ser, do que a
gente enfrenta. Colocamos na nossa panela de pressão do relacionamento duas
pessoas por inteiro, e o estresse do dia-a-dia, os compromissos, as pressões
internas (eu quero ser linda, gostosa, bem sucedida e casar, ele quer ser
lindo, profissional perfeito, gostoso e ficar solteiro curtindo a vida
alucinadamente até os 38 anos) e as pressões externas (vocês não vão casar?
nossa, a filha da minha amiga é a chefe principal de uma multinacional no
exterior e você ainda na faculdade? mas você ganhou uns quilinhos ou é só
impressão minha?)… E vamos cozinhando esse caldo todo, na panela de pressão.
Um dia, como é inevitável, a panela estraga. Ou ela explode, ou ela
deixa de cozinhar e a gente logo pensa que seria melhor tirar os nossos
ingredientes porque aquela coisa não vai dar em nada mesmo. Até ai, normal, faz
parte. Mas a gente não conserta a panela de pressão.
A gente sai, e compra uma nova. A gente desconsidera tudo o que já
havia saído dali, todas as receitas que deram certo. A gente nem quer saber se
era só uma borrachinha a ser trocada. A gente toma raiva dela ter explodido uma
vez, depois de tanto uso, como quem grita: assim, não dá. Ou a gente toma birra
dela ter perdido a capacidade de manter a pressão, e encosta a panela.
E nossos relacionamentos-panelas-de-pressão vão sendo substituídos,
porque, às vezes, o que a gente busca é o que não existe: uma panela que nunca
estrague. E não é só a panela de pressão que a gente passa a evitar.
A gente começa a comprar comida pronta, congelada, que tem a embalagem
linda e aquele gosto…huuuuuum, aquele gosto de isopor de sempre. Porque ser
feliz, viver e experimentar qualquer coisa gostosa, demanda esforço. Esperar a
comida ficar pronta na panela de pressão é demorado. Dá trabalho.
Só que, relacionamentos (talvez como as pobres panelas), merecem ser
consertados.
A gente precisa trocar a borrachinha de vez, regular direitinho as
coisas. Porque é dali que vai sair a comida boa, da panela velha…por mais
bonita que seja a embalagem da comida congelada.
Por Laura Henriques